quinta-feira, 28 de julho de 2011

DESLEIXADOS

Semana passada, no dia do amigo, escrevi sobre amizade, por obviedade. E nesse contexto uma grande amigo, um dos que mais admiro, me escreveu comentando sobre o texto. E num trecho do seu e-mail ele falou sobre como somos desleixados. E ele tem inteiríssima razão.

Acredito que na maioria das vezes nem percebemos o quanto somos desleixados. Por puro descuido, e na grande maioria das vezes nada mais que isso, deixamos para a semana seguinte para visitarmos um amigo que queremos ver, e naquela semana acabamos não podendo ir e adiamos para a seguinte, que bate uma preguiça e deixamos para a próxima ainda, que surge um compromisso e nos impossibilita a visita. E acabamos por deixar o tempo passando, passando, e quando vemos, já faz meses, anos, que não visitamos aquela pessoa querida.

E isso se aplica a quase todos os setores da nossa vida. Sabe aquele e-mail que queremos escrever para alguém, e vamos deixando pra depois? Ou aquele conserto na nossa casa, aquela viagem, a dieta, aquele cursinho que vamos adiando, e as vezes acaba caindo no esquecimento e nunca realizamos? Tudo desleixo.

Existe um texto maravilhoso, que alguns atribuem a Vitor Hugo, e outros a Marina Colasanti, e alguns outros ainda a Clarice Lispector, que por desleixo não pesquisei para descobrir o verdadeiro autor. O texto chama-se “Eu sei, mas não devia”. Ele fala sobre as coisas do cotidiano que acabamos nos acostumando, mas que não deveríamos. Coisas como comer qualquer coisa no café da manhã porque estamos sempre atrasados, a estarmos sempre com pressa, a nos acostumar com as pessoas mal educadas, impacientes e grosseiras.

Assim também é conosco, quando nos acostumamos a não ter tempo pra nada devido a correria de nossas vidas, quando esquecemos de dizer “eu te amo” pela falta de tempo, quando deixamos de abraçar os amigos ou de simplesmente admirar a beleza da vida. Não refletimos sobre a vida, não vemos as cores da natureza, nos acostumamos com políticos corruptos, com as injustiças e com nossa eterna insatisfação.

Eu sou desleixado, e você também é que eu sei. E por conta disso acabamos nos acostumando a deixar de fazer coisas que gostaríamos muito, e por causa disso só as fazemos por obviedade em datas específicas. Mandamos e-mail’s para os amigos porque é o dia do amigo, ligamos para as pessoas porque é seu aniversário, compramos presentes devido ao dia das mães, dos pais, dos namorados. Presenteamos as pessoas que gostamos porque é natal. Acabamos por fazer simplesmente coisas óbvias, por puro desleixo do nosso cotidiano. Assim como aquele texto óbvio que escrevi semana passada.

Acabamos vivendo no automático, sem conhecer profundamente as pessoas, sem aproveitar intensamente os momentos especiais. E a obviedade acaba por tirar toda a beleza da nossa existência. E nos acostumamos a isso, por puro desleixo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

AMIGOS

Post a pedido de uma amiga muito querida e especial.


“Meus bons amigos /Onde estão?
Notícias de todos / Quero saber
Cada um fez sua vida/ De forma diferente
Ás vezes me pergunto:/ malditos ou inocentes?”
(Barão Vermelho)

Tenho centenas de fotos guardadas em casa. Fotos antigas, de um tempo em que não haviam máquinas digitais, que tínhamos que comprar filmes e depois revelar. Tempo em que todos paravam para fazer pose, pois uma foto era uma coisa fora do comum, registrar aquele momento era algo mágico, e depois a expectativa de vê-las reveladas, a alegria de recordar aqueles momentos ou a decepção de ver que elas não ficaram boas. Gastei uma boa grana em revelações fotográficas, mas não me arrependo, foram de um tempo em que eu era feliz, e sabia.

E vez em quando bate uma nostalgia e revisito as fotos. Guardam momentos marcantes, engraçados, passeios, lugares, flagras ... mas o mais importante é que elas guardam a recordação de pessoas que marcaram muito minha vida, que tenho enorme prazer de um dia ter a oportunidade de chama-los de AMIGOS. Tenho orgulho de ter compartilhado com eles momentos de suas vidas, frustrações e alegrias, sonhos e confidências.

Novos amigos sempre são importantes e bem vindos, mas aqueles que conhecemos na nossa infância ou adolescência são especiais. Temos uma história compartilhada, conhecemos como se formou sua essência, seu caráter. Sabemos o que eles acreditaram um dia, o que sonharam, e com isso podemos ver o que conquistaram, onde chegaram e assim ter noção da importância de suas conquistas ou o tamanho de suas frustrações.

“Cada um fez sua vida/ de forma diferente” não poderia ser de outra maneira, cada um seguiu seu rumo, seu destino, seguiu suas verdades. A vida é assim, e tem de ser. Mas quando me pergunto se são “malditos ou inocentes” é porque, apesar da distância que separam alguns, muitos não quiseram mais manter contato, preferiram apagar páginas e personagens de suas vidas. Fizeram sua escolha, e esperam que estejam feliz com ela.

Cada pessoa tem os seus valores. Uns valorizam a profissão, se qualificam, estudam, se dedicam ao trabalho. Outros valorizam a o ambiente familiar, constituem família, criam seus filhos. Alguns valorizam o dinheiro, outros o prazer, o sexo. E nisso todos são, de certa forma, inocentes, pois buscaram o que é verdadeiro para si mesmo.

Não os culpo. Pra ser sincero, só às vezes. Sei que cada um tem uma realidade diferente e um cotidiano corrido, como são com todas as pessoas. Mas por mais que me digam o contrário, acredito que sempre poderíamos reservar um momento para as pessoas que marcaram nossas vidas, para aqueles que nos fazem bem. Mas infelizmente nem todos pensam assim. A vida os transformou.

Viver é conquistar, ter experiências, cultura, amigos, um grande amor; viver também é perder, diminuir a destreza muscular, o reconhecimento social, a vitalidade social. Viver é encantar com os outros e ter expectativas correspondidas; viver também é desencantar e ter expectativas esfaceladas. O drama e o lírico sempre nos acompanham. (Cury 2008). Mas quando dividimos essas experiências com aqueles que nos conhecem profundamente, conhecem nossa essência, conhecem nossa história de vida, é muito melhor.

Amigo de verdade é aquele cara que você reencontra, depois de cinco ou dez anos, e percebe nele aquele brilho no olhar, aquela admiração mútua, aquele abraço apertado e caloroso. É aquele sujeito que, mesmo há tanto tempo separado, sabe muito sobre você, está ansioso para compartilhar suas experiências e que, acima de tudo, sempre soube que mesmo distante estava torcendo por você e que só quer o seu bem.

Quando olho aquelas fotos me pergunto onde estão aquelas pessoas que eram parte de mim? Aqueles sujeitos que viravam noites, muitas vezes regadas a vinho, filosofando sobre suas verdades adolescentes e sonhando com um futuro perfeito? Aqueles sujeitos eram uma grande família, que sabiam que apesar de qualquer dificuldade poderiam sempre contar uns com os outros.

Será que mudamos tanto assim em dez ou quinze anos? Será que a personalidade, o caráter de cada um se transformou tanto? Não acredito. Mas seguimos nosso caminho, continuamos a falar e escrever com aqueles que valorizaram uma amizade e mesmo distante, nunca perderam o contato. E quando reencontramos aqueles que preferem continuar só ao lado dos novos amigos, vamos nos cumprimentar, perguntar superficialmente como estão e marcar um compromisso que nunca sairá do papel.